Número total de visualizações de páginas

domingo, 31 de janeiro de 2021

Um paralítico

 


 

Um paralítico

Há algumas semanas, os Bispos da África-Central publicaram uma mensagem muito bonita. Na situação de guerra e tensões em que vivemos, a palavra dos Bispos é praticamente a única que diz algo sério e construtivo.

Nesta mensagem, os Bispos partem de um episódio do Evangelho de S. Lucas. Estando Jesus rodeado pela multidão chegam quatro pessoas com um paralítico numa padiola. Mas não conseguiram chegar até Jesus, que estava dentro de uma casa. A sua fé em Jesus é tanta, que sobem ao telhado, descobrem o telhado e fazem descer a padiola para diante de Jesus. Que, naturalmente e diante de tanta fé, o cura.

Os Bispos veem no paralítico uma imagem de África-Central, que não consegue levantar-se, e que necessita da coragem e da fé de todos para voltar a pôr-se de pé. Para quem quiser, está aqui a mensagem dos Bispos: https://www.dropbox.com/s/zcbgp1u8toz8z5x/Message%20des%20Ev%C3%AAques%20-%20Janvier%202021.pdf?dl=0

Nestas semanas a situação ficou muito grave. Hoje, quinta-feira 28 de janeiro, tinha no programa ir a Bouar. Mas precisamente antes de sair fui informado de prováveis confrontos entre o exército e grupos armados, e tive que renunciar.

Infelizmente o número dos refugiados nas Igrejas e Conventos continuam aumentando, e a situação corre o risco de durar muito tempo, porque ninguém quer dar um passo atrás e muito poucos põem o bem comum à frente dos próprios interesses.

Precisamente hoje, de Bouar, me disseram que o número de refugiados continuam aumentando. São já mais de 17.000. Graças a Deus, há alguns organismos que tentam fazer alguma coisa. Mas também graças a todos os que se movimentam, na África-Central e no mundo, para nos dar uma mão. É certo que o homem pode ser muito mau, mas, graças a Deus, também pode ser muito.

Também aqui em Baoro a situação continua sendo muito tensa. Alguns semi-rebeldes colocaram barreiras em três estradas, à entrada da cidade. Também eles, como a polícia e os guardas nos tempos “normais”, dizem que o que fazem é para a segurança da cidade. Na realidade, também, como a polícia e os guardas nos tempos “normais” o fazem para pedir dinheiro.

Na sexta-feira passada fui convidado para uma reunião com as (poucas) autoridades que ficaram. Temas da reunião: a reabertura das escolas e a eliminação das barreiras. Estavam presentes também representantes dos semi-rebeldes, que finalmente parecem aceitar. Mas..., nos dias seguintes as barreiras continuam…

As escolas, no entanto, reabrem, muito timidamente. Na cidade há alunos, mas faltam muitos professores. Nas aldeias, ao contrário, os professores estão presentes, mas há muito poucas crianças (por causa do medo, mas também da estação seca).

E agora vamos retomar o trabalho da mediação, também com os líderes religiosos da cidade. Na terça-feira reunimo-nos, católicos, protestantes e muçulmanos, para partilhar as preocupações da situação. Oramos e programamos um momento de oração, para o Domingo 31 de janeiro, precisamente no centro de Baoro. Rezaremos pela paz e pelo país.

Não queremos ficar paralíticos para sempre.

 



Formazione dei Catechisti
Formation des catéchistes




Convento dei Carmelitani - Saint Elie Bouar
Couvent des Carmes - Saint Elie Bouar


Barriera illegale
Barrière illégale

Convento dei Cappuccini - Saint Laurent Bouar
Couvent des Capucins - Saint Laurent Bouar

 

 

domingo, 24 de janeiro de 2021

O grito de 6.400 pessoas. Na realidade 14.000.

 

O grito de 6.400 pessoas. Na realidade 14.000.

Sexta-feira passada fui a Bouar.

Nos 60 quilómetros que percorri não vi nenhum carro nem nenhum camião na estrada. À chegada a Bouar, encontrei alguns militares junto ao seu campo (e espero que sejam militares regulares, porque estavam vestidos e armados de formas muito distintas). Passei pelo centro da cidade (onde todas as lojas estavam fechadas) e por fim cheguei à Catedral. Eram umas 3.000 pessoas que tinha fugido de suas casas (porque os rebeldes se encontram espalhados pelos vários bairros).

Milícias rebeldes enfrentam-se com o exército, e como sucede sempre, é a pobre gente que sofre as consequências. Em África diz-se que: quando dois elefantes lutam, é a erva que fica esmagada.

Muitas pessoas abandonaram as suas próprias casas e conseguiram chegar a igrejas e conventos: à Catedral, à paróquia de Fátima, ao convento dos capuchinhos de São Lourenço e aos carmelitas de Santo Elias.

A situação é muito séria, também porque no Domingo, dia 17, houve outros combates, e o número de refugiados duplicou passando de 6.400 para mais de14.000 pessoas.

Alguns organismos, e Agências da ONU, estão trabalhando muito, mas a situação é muito grave: há que pensar na água, na higiene, no saneamento, na comida, no frio, no número de crianças que constitui a maior parte dos refugiados.

Como Cáritas estamo-nos organizando para fazer o possível. Muitos amigos estão tentando ajudar-nos, as organizações (já mais irmãs que amigas,) também nos ajudam: Cáritas da Alemanha, Cáritas Internacional, Siriri.org. E este é um primeiro programa de intervenções:

domaine

Libellé

unidades

Quantidade

 Preço unidade

total cfa

euros

alimentos

arroz

kg

6000

           420  

2.520.000

3.847 €

alimentos

azeite

litros

40

     25.000  

1.000.000

1.527 €

alimentos

cubos

sacos

500

        1.000  

500.000

763 €

alimentos

café

sacos

4000

           200  

800.000

1.221 €

alimentos

açúcar

kg

2000

        1.000  

2.000.000

3.053 €

higiene

lixívia

litros

100

        1.000  

100.000

153 €

higiene

Luvas

paquetes

20

        4.500  

90.000

137 €

sanidade

Máscaras

vasilhas

20

        8.000  

160.000

244 €

sanidade

Sabão

caixas

50

     20.000  

1.000.000

1.527 €

sanidade

paracetamol

caixas 1000

20

        7.000  

140.000

214 €

sanidade

coartem (malária)

saquetas

50

        7.300  

365.000

557 €

sanidade

loperamida

Caixas 1000

20

        7.000  

140.000

214 €

Higiene

Construção de serviços higiénicos

unidade

20

     50.000  

1.000.000

1.527 €


 

 

 

 

9.815.000

14.985 €

Na terça-feira volto para Bozoum, para terminar a compra 6 toneladas de arroz. Preferimos comprar arroz produzido localmente, também para ajudar a economia local, muito afetada pela guerra.

Em Bozoum a situação é muito tensa, mas atrevi-me a comprar as coisas, e voltar na quarta-feira de manhã (por volta das 10h informam-me que um jovem foi morto pelos rebeldes 3R...).

Em Bozoum preguntaram-me pela Feira. Passei também rapidamente pelas hortas, que são um espetáculo. Em teoria, também neste fim-de-semana deveríamos ter organizado a Feira de Bozoum. Mas por agora não é possível. Será possível dentro de um mês? Não sabemos.

Segunda-feira, dia 18, a Corte Constitucional proclamou vencedor das eleições o Presidente atual. Sobre 1.800.000 inscritos, só um terço pode votar… Mas o anúncio da decisão da Corte Constitucional não satisfez nem os rebeldes, nem os opositores, por isso a situação de tensão e guerra continua.

Quarta-feira voltei a Bouar, e às 11h tivemos uma reunião com os responsáveis dos vários lugares de refugiados, e discutimos sobre a situação e sobre os problemas mais importantes (higiene, comida, segurança). Os problemas são muitos, mas a Caridade, a Fé e a Esperança são mais fortes.

Alguém ouvirá o grito de tanta gente? Quem de um modo, ou de outro, é responsável desta tragédia, fará alguma coisa para deter a violência?


Cattedrale - Bouar






Gli orti di Bozoum 2021
les jardins potager de Bozoum 2021


Fattura del riso: circa 3.600 euro
Facture du riz: en gros 3.600 euro

Bozoum

St.Elie

Formazione dei catechisti a Bawi
Formation des catéchistes à Bawi