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sábado, 29 de fevereiro de 2020

Leite e Cinzas




Leite e Cinzas
E… Depois de sete anos, o leite voltou finalmente a Bozoum.
Aqui na África-Central há uma etnia, os Peul, composta essencialmente por pastores nómadas. Originários da Nigéria, deslocam-se de Norte a Sul com as vacas, em busca de pastos.
Muitas famílias já estavam estabilizadas, e também á volta de Bozoum havia muitas outras famílias. Duas ou três vezes por semana traziam-nos leite fresco. Enquanto o gado pertence aos homens, os produtos do leite (e da transformação em manteiga ou yogurt) é prerrogativa das mulheres.
Infelizmente, com a guerra, quase todos os Peul, da zona, se foram embora. Mas na sexta-feira passada tive a grande surpresa de voltar a ver, aqui na Missão, algumas mulheres que tinham vindo para vender o leite. É um sinal, pequeno mas muito bonito, de que a situação, lentamente, está melhorando.
No Domingo fizemos a festa dos escuteiros, um bonito movimento muito ativo na África-Central: no fim da Missa nove jovens fizeram publicamente as suas promessas.
Segunda-feira fui para Bouar, para subir, na terça-feira, para Bocaranga. Estive juntamente com o P. Mateo, e juntos visitámos os nossos três catequistas que estão a frequentar o primeiro ano de formação na Escola dos Catequistas, dirigida pelos PP. Capuchinos, juntamente com outras quinze famílias.
O catequista é uma figura essencial na Igreja africana: é ele, nos bairros e nas aldeias     quem dirige a oração, explica o catecismo, e acompanha a Comunidade cristã. Nas aldeias, onde o Sacerdote consegue apenas chegar duas ou três vezes ao ano, é ele, o catequista, quem está presente, juntamente com a sua família.
Aqui em Bocaranga, enquanto pela manhã os catequistas seguem os cursos sobre os sacramentos, a Palavra de Deus, a história da Igreja, as mulheres estão-se formando na alfabetização, puericultura, costura e culinária…
Na quarta-feira começámos o caminho da Quaresma com a imposição das Cinzas: um sinal que nos recorda o frágil e débil que somos, e pecadores. Mas um sinal que nos prepara a deixar-nos envolver, como escreve o Papa Francisco, "pelos braços abertos de Cristo na cruz", que nos chama a apoiar-nos e a crer na sua Misericórdia, que nos livra de todo o pecado.
Santa Quaresma!



Peul - Mbororo



Scuola dei Catechisti - Bocaranga
Ecole des Catéchistes de Bocaranga





Bozoum-Bocaranga




sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

Silêncio



Silêncio
Como sucede com frequência, também esta semana esteve cheia com muitos acontecimentos, aqui na Missão de Bozoum. Mas, há uma coisa a qual não consigo  calar-me. Mas deixo para o fim.
Este fim de semana esteve muito animado, e agitado, com a chegada do P. Federico, que veio de Bangui com 11 jovens Carmelitas, que estão estudando Filosofia. Depois de passar por Bossangoa chegaram a Bozoum para alguns dias de férias e descanso.
Continuam os vários  trabalhos, graças à ajuda de muitos, e à presença de algumas pessoas preciosas que se prestaram ajudar-nos. E precisamente amanhã  dois deles partirão: Giulio Canina, dotor, e Enrique Massone.
Enrique deu uma grande ajuda ao P. Norberto na Igreja de Kpare, uma aldeia a 10 quilómetros de Bozoum, enquanto Giulio se dedicava aos doentes do dispensário.
Já terminaram os trabalhos da restruturação de um armazém, que transformamos em  ginásio para as atividades deportivas dos jovens de Bozoum. E isto graças ao CSI (Centro Sportivo Italiano) de Savona
Tudo iria bem, se não houvesse o grande problema de exploração selvagem do ouro, por parte de algumas empresas chinesas. Muitas pessoas estão convencidas de que as atividades foram suspensas. Mas isto não é verdade.
Apesar das promessas, apesar do relatório da Comissão parlamentar, apesar da análise da água do rio Ouham, que cujas análises acusaram uma forte presença de mercúrio, as citadas empresas chinesas estão em plena atividade, aumentando as obras de extração ao longo do rio.
A água do rio Ouham é castanha, e muito densa. E isto na estação seca, quando a água dos rios é mais transparente. Este fenómeno está presente no rio a centenas de quilómetros de distância de Bozoum.
Das diversas promessas (uma escola, dois dispensários), não se viu nada. As autoridades locais preferiram construir a tribuna, para as autoridades, para o desfile da festa nacional de 1º de dezembro, em vez da escola.
Dos dois dispensários, por agora um está meio construído. E o outro não.
Todos os dias, apesar da água contaminada pelo mercúrio, milhares de pessoas não podem fazer outra coisa senão beber, lavar-se e cozinhar com a água contamindada.
 E todos os dias, com absoluta indiferença das autoridades locais, centenas de pessoas (em grande parte mulheres e crianças) vão às diferentes obras para tentar recuperar um pouco do ouro que fica por ali. Muitas mulheres estão grávidas, e levam consigo os seus filhos pequenos. Quando se começarem a ver estragos causados pelo mercúrio, será demasiado tarde.
Mas..., recomendo silêncio!

Il fiume Ouham, o quello che ne resta
Le fleuve Ouham, après...

 

Non è l'Ouham
ce n'est pas l'Ouham
l'Ouham






dr Giulio

Kpare


La vecchia cappellina e la nuova...
La vieille chapelle et la nouvelle




Piccole cercatrici d'oro
Petites chercheuses d'or...


Palestra (CSI)
Salle de sport (CSI)